Obra da Capa: Caetano Santos - Arte: Evandro Cardoso |
A RAZÃO
DE O AMOR QUERER OU
UMA LOUCA ESPERANÇA
Criei uma forma e uma imagem para
ti,
Percorri tua silhueta com meus
olhos,
Desejei-te, como desejei sentir
teu perfume,
E talvez até descobrir teus
segredos
Mais secretos e incontáveis,
Continuei a desejar,
Encontrar tua alma
E fazer parte dos teus mistérios,
Desejei conceber o inconcebível,
Alcançar o inatingível e,
Realizar o impossível,
Continuei a te amar,
Como quem ama uma flor,
Que jamais deve ser tocada,
Porque sempre continuará ali,
Apenas para ser admirada
Criei uma forma e uma imagem para
ti,
Apenas para continuar a
interpretar
Meu infinito personagem do teatro
da vida,
E continuei a desejar,
Simplesmente te amar.
1.
As crianças brincavam,
Pulavam, corriam,
Os velhos dormiam,
Sonhavam, sorriam,
Os cachorros deitados,
Afoitos, atentos,
E todos passavam,
Atrasados andavam,
E eu sempre sentado,
Observava assustado,
Neste dia eu cresci,
Tornei-me gente grande,
Talvez um adulto,
A verdade eu via
E queria esquecer,
Porque ela doía
E fazia sofrer,
Tornei-me um adulto,
Perdi a inocência,
E depois desse dia,
Jamais sorriria.
2.
E na tela branca,
As tintas criavam formas,
Pelas mãos trêmulas,
De um jovem assustado, ou,
De um velho amargurado
Pelas novidades da vida,
Ou pela experiência vivida,
E as tintas naquela mesa,
Que outrora acolhia
Uma taça de vinho
Que agora vazia pousa ao chão,
Pediam que lhe dessem a vida
Na tela branca, outrora
encardida.
E as mãos trêmulas
Bailavam no ar,
Numa sinfonia quase infinita,
Criando um refúgio,
Demarcando seu mundo,
Diferente do que vive
Apenas para abrigar
Um jovem assustado e
Um
velho amargurado.
3.
Hoje eu vi e senti,
Como é difícil sorrir
Em um mundo marcado
De dor e ódio
Hoje eu senti esta dor
Que não corta como faca,
Não fere como arma de fogo,
E mata de uma forma diferente
Hoje libertei de meus olhos,
As lágrimas trancadas
E senti em minha boca
O gosto amargo de sangue,
Hoje eu vi a fortaleza ruir
Em pedaços pequenos
Banhados pelo doce veneno
Chamado ser humano,
Que cria suas crias,
Que outrora
Sequer existia,
E veremos sempre o dia de hoje
E continuaremos sempre
A esperar o amanhã.
4.
Como o carvão
Que um dia foi pó
Como as ideias
De um pobre coitado
Como a mente
De um jovem drogado
Como a tristeza
De um homem aleijado
Como uma alma
De um copo quebrado
Como os sonhos
Que estão estirados
Como uma vida
Que já está perdida
Como a pia da avó
Que está entupida
Como a comida da mãe
Que está esfriando
Como os sonhos do pai
Que te imaginou um doutor
Como a toalha branca
Agora encardida
Como a estrada
Que já foi percorrida
Como a criança
De voz muito ardida
Como se o sol
Não fosse nascer
Como se a lua
Tremesse de frio
Como se a guerra
Um dia acabasse
Como se homem...
...Criasse
Como a vida
Tudo termina:
O pó as ideias
A mente, a tristeza.
A alma, os sonhos.
A vida a pia
A comida e o doutor
A estrada a criança
A lua e o sol
O frio e a guerra
Do sagrado ao banal
Da escrita a poesia
Tudo se acaba um dia!
Menos o amor.
5.
Estou
no caminho do excesso
Excedendo
os meus limites
Celebrando
a minha vão vitória
Ainda
não conquistada
Trilhando
o rumo de ninguém
Se
não o meu próprio
Caminho
em direção ao palácio
Da
sabedoria; Talvez! Quem sabe?
Exímio
penitente, que paga pecados.
Jamais
concedidos, enquanto “eu”.
Procuro
agora, a minha restauração.
Para
o encontro do além
Aguardo
a renascença da alma
Para
o sublime encontro
E
pelas minhas mãos
Aquele
que escreve
Dirá;
Livre; Enfim!
Liberdade
eu liberto.
6.
Eu que de sensato
Tenho um quê de louco
Eu que de ingrato
Tenho um quê de rebelde
Eu que da prudência
Tenho um quê de audaz
Eu que de mendigo
Tenho um quê de largado
Eu que de calmo
Tenho um quê de paz
Eu que da força tenho um quê
Eu que do amante
Tenho um quê de quente
Eu que do poeta
Tenho um quê de triste
Eu que do amigo
Tenho um quê de certo
Eu que do sozinho
Tenho um quê de espera
Eu que do humano
Tenho um quê de pressa
Eu que de você
Tenho um quê de bom
Eu que do amor
Tenho um quê de ti
Eu que do final
Tenho um quê de infantil
Eu que de homem
Tenho um quê de carne
Eu que de noite
Tenho um quê de trevas
Eu que de tolo
Tenho um quê de bobo
Eu que de ariano
Tenho um quê de sincero
Eu que de torto
Tenho um quê de gosto
Eu que de moço
Tenho um quê de amor
Eu que de eu
Tenho um que de você
Eu que de bom
Tenho
então um bem.
7.
Estou apaixonado
Por um par de meias
Por um som de voz
Por um par de sapatos
Pelo
teu retrato
Estou apaixonado
Por manchas de tinta
Por todos os lados
Por uma unha encravada
Teu
sorriso, teu tudo, teu nada.
Eu estou apaixonado
Pela mulher dileta
Da minha escrita
Pelo meu grande amor
Por
minha melhor amiga
Eu estou apaixonado
Simplesmente bobo
Tão somente louco
Escrevendo tolices, assim;
Simplesmente, apaixonado.
8.
Que
da minha ausência se faça ao menos a lembrança
E
que se encha a casa, com a doce saudade da alegria.
Pois
da tua lembrança eu faço infinita a paz em mim
E
me encho de tranquilidade aguardando o reencontro
Espero-te
paciente e sereno aguardando também o dia
Cheio
de novidades e de soro para a minha vida
Assim
como um enfermo, aguardando seu medico.
Espero
pelos teus olhos, espelho do meu semblante.
As
minhas mãos trêmulas aguardam pelos teus cabelos
E
meus ouvidos ansiosos esperam pelo som da tua voz
Assim,
igual feito um fiel que aguarda paciente o sermão.
Que
lhe torna forte, e lhe dá exemplo.
E
faz com que se fortaleça até o próximo encontro
Vêm,
como um anjo enviado por Deus.
Para
me salvar minha alma sem muita esperança
Vem
Maria! Vem mulher! Vêm arianas!
Doce
presente do décimo quinto dia de abril
Vêm
reforçar a minha fé pela minha vida
Vêm
por que te amo tanto, que já nem sei.
9.
Sabe, não resta muito.
Mas ainda falta um tanto
Não precisa por a mesa
E nem esperar por mim
Hoje eu vou voltar tarde
Não sei nem mesmo por que
Mas só sei que volto tarde.
Enquanto você só me olha
E quase sempre me diz nada
Agora não mais me importa
Por que eu nem mesmo choro
Nem mesmo dou mais risada
Tão pouco, ainda questiono.
Nem mesmo, irei me explicar.
Eu agora, apenas olho.
E também me calo
E triste apago a luz
E o espelho nem responde
Fica vazio e lá no escuro
E nem me pede
Para que eu fique
E nem me fala que eu faço falta
Olha me ouve me olha.
Olha-me; olha-me, que eu…
Eu estou indo embora
Olha-me e guarda a esmola
Olha-me e me guarda
Na lembrança se possível
Lembre-se do eu mais contente
Guarda a esmola; Que eu?
Eu estou indo embora.
Desculpa, perdoa, esquece,
Sei lá, nem sei, vê se esquece
Amontoa em um canto qualquer
Qualquer que seja a lembrança
Expulsa a minha esperança
Que já nasceu sendo falha
E tendo algumas poucas certezas
Perdoa se possível a sinceridade
E essa minha enorme teimosia
Desculpa! Eu também sou ariano
Tu sabes o que lhe digo, eu sei.
Olha me ouve me olha me olha;
Olha-me, que eu estou indo
embora.
10.
O
ócio sem ofício
O
susto sem o grito
Escolha
sem o medo
O
branco sem o preto
O
gelo sem o copo
Agora
sem o logo
Carinho
sem o colo
O
bobo sem o tolo
Arena
sem o touro
O
rico sem o ouro
Amor
sem o corpo
O
choro sem soluço
A
carne sem o osso
O
morto sem o luto.
11.
Que
me reste sempre um sopro
E
não falte nunca o tempo
Que
seja mais do quê posso
Pois
tanto faz, tudo que é nosso.
Que
seja sempre improvável
O
mais fácil desta nossa vida
Que
haja sempre um sorriso
E
sejam mudos, nossos gritos.
Que
se apresente o inevitável
Pois
será forte todo o meu ideal
Que
não se rende nem com morte
E
não me larga nunca a própria sorte
Que
não me deixa no momento
Do
tal vacilo do meu corpo
Que
cansado me sustenta
E
aos pedaços me suporta.
12.
Na
noite, eu me acho.
Encontro-me,
me encaixo.
É
a noite que me faço
Escrevo,
crio, procrio e me salvo
Na
noite eu recomeço novamente
Nela
renasço, de novo, sem cansaço.
Uma
noite, que é só princípio.
Prelúdio
primeiro do grito
Grito,
que na noite se faz mudo.
E
que a sombra protege do mito
É
a noite que eu me acho
Encontro-me
e me encaixo.
13.
Havia
dias, em que todas as coisas estavam cansadas.
E
que sentíamos saudades, de tudo que não tínhamos.
De
cada migalha, que um dia nós desejamos encontrar.
Mas
o tempo se fazia alheio à espera, e não havia vento.
E
as coisas, nos tornavam miseráveis.
E
as migalhas eram todas insuficientes
E
a nossa vida ia sendo mais estúpida
A
cada dia, a cada noite, a cada açoite.
Nossa
memória esfarelava, entre nossos dedos.
Dos
acusadores de uma terra sagrada e santa
E
os dias eram curtos demais, para o princípio.
E
nossa força era poeira, em um dia de vento.
E
se algum dia, você for capaz de me ouvir.
Não
esqueça jamais, daquilo que eu não lhe disse.
E
que meus olhos, entregavam feito assim, um tolo.
Que
não consegue cansar, daquilo que mais deseja.
E
que neste dia se faça a festa
E
se cumpram as nossas promessas
Neste
dia, que libertem os anjos,
E
que Deus proteja todas as fadas
Pois
os ventos derrubarão as muralhas
E
levarão os justos pelos quarto cantos
Mesmo
aqueles, que tombarão antes do final.
E
esses irão beber, das águas mais puras que há.
E
derrubarão ainda, uma lágrima de piedade.
Far-se-ão
livres então, todas as nossas saudades.
E
quem sabe, este não seja o fim de mais uma estória,
Que
ainda mesmo que triste, possa terminar com alguma glória.
14.
Enquanto
houver vida
Não
haverá jamais
O
medo do penhasco
Enquanto
houver tempo
Eu
não terei jamais
Medo
do eu próprio
Enquanto
eu respirar
De
certo jamais serei
Um
vivo que é morto
E
não me entrego
E
não me rendo
Mesmo
sabendo do final
Mesmo sabendo.
15.
Um
pedaço de silêncio
Com
uma saudade
Outra
lembrança
Talvez
uma lágrima
Uma
oração ou duas
A
madrugada e o breu
Um
som de pensamento
Uma
conversa com Deus
Uma
só vontade
Com
outra escolha
Um
só caminho
Em
outra estrada
Uma
única saudade
Uma
única lágrima
Mais
lembranças
E
só o silêncio
Algumas
fotos
Outro
tempo
Um
só futuro
E
outro caminho
Um
aperto agora
No
mesmo peito
Outro
medo
Outra
noite
Um
cansaço
Um
silêncio
Uma
vontade
Uma
escolha
Outra
parte
Outro
medo
Uma
lágrima
Um
respeito
Mais
saudade
Mais
silêncio
Mais
calado
Mais
sozinho
Um
pensamento
Um
pedido perdido
No
silêncio vão
Sem
mais medo
Outra
oração
Outra
lágrima
Mais
saudade
Outro
dia
Um
pedaço de silêncio
Um
som de pensamento
Uma
conversa com Deus
O
escuro, o sono, mais nada.
16.
Que me venha o pão
Que me venha o alimento
Que destrua minha dor
Que me mostre o amor
Que me venham os riscos
Que se façam meus limites
Que me leve sempre à frente
Que me leve tão contente
Que de tudo, eu faça o certo.
Que do mundo, eu veja o bom.
Que do mal, agora eu conheço.
Que da sobra, eu não esqueça.
Que a força, cobre o preço.
Que do tolo, já não tenho.
Que o caminho, me mostre o medo.
E do descanso, me mostre o seio.
Que de tudo, não se esqueça.
Que caminhos, vêm do receio.
Que do medo, nasça o homem.
E do homem nasçam, os meios.
17.
Que
a inquietação, aguce e tome conta.
De
cada milímetro cúbico de sangue
Que
pulsa quente em nossas veias
Desperte
como um monstro mitológico
Tudo
o que possa haver de curiosidade
Adormecida
há tempos dentro do ser
Transforme
todo e qualquer tipo de inércia
Em
uma não aceitação por tudo que é fácil
Em
aversão pelo que for mais óbvio, e seja;
Ainda
quê, por um momento infindo.
Um
pedaço microscópico do divino
E se faça novamente um princípio…
18.
O
esplendor majestoso
De
um princípio tardio
Aos
olhos de um tolo afoito
Desilusão,
dor e desgosto.
Senhor
de um domínio
De
um reino destruído
Um
novo reinício?
Ou
somente princípio?
Por
valor, eu tenho e temo,
Por
razão, eu sigo quieto.
Pois
inércia do agredido
É
perdão ao agressor
E
não há nada mais belo
Do
quê o gosto do ar
Dentro
da imensidão
Do
quê somos por excelência.
19.
Eu só preciso do caderno
Agora de uma caneta
Por enquanto do cigarro
Eternamente, de você.
Hoje em dia sou louco
Estando totalmente careta
E um dia, eu quero um sítio,
E mais três filhos com você
Ganhar muito dinheiro,
Um dia na vida, com poesia,
Pintar muitos quadros
Todos os dias também
Eu e tu, eles, os nossos filhos,
E meus filhos também
Morando em um sítio
Em um sítio meu bem
Dormir sempre tarde
Trabalhando por vontade
E todo dia agradecer
Obrigado Deus, e Amém.
20.
O cadáver atrás do móvel.
O cheiro insuportável!
O cadáver ali imóvel.
Morto num banquete miserável.
21.
Pão e água
Sol e terra
Morte e parte
Sorte e pacto
Pão e pão
Dia após dia
Chão e só
Só o chão.
22.
Quatro passarinhos
Cantavam na janela
Quatro passarinhos
Cantavam lá
Havia uma patativa
Havia um sabiá
E outra patativa
E outro sabiá
Toda criançada
Tentava acompanhar
Toda criançada
Tentava assoviar.
23.
Se
eu não sou tão presente
Perdoem
a minha ausência
Perdoem
também, a minha saudade.
Se
eu não tento só agradar
Perdoem
minha falta de jeito
Perdoem
também, minha sinceridade.
Se
não mando presentes
Perdoem
a falta de grana
Perdoem
também, as escolhas mais certas.
E
quando o tempo passar
E
quando puderem entender
Ao
menos se lembrem de mim
E
nunca na vida esqueçam
Que
a todo o momento
É de vocês, que eu me lembro.
24.
Penso
Crio
Cri
de
Grilo
Ouço
Ou
morro
Osso
De
galo
Tomo
Café
Eu
cá
Tu
lá
E
há
Sal
Da D
25.
OLHAPARAPENSAQUETÚENTENDE!!VIUSÓ??
26.
Um
passo de salto
De
moça apressada
Que
samba na rua
De
madrugada marcha
Em
noite de lua murcha
Era
uma moto que voa
Era
um carro que freia
Uma
lombada de coco
Uma
mulher Linda
Uma
mulher feia
Saudade
de casa
De
filho e de filha
Do
amor de Maria
E
da Maria,
Que
eu fui cria.
27.
Eu pensava ali sentado
E lembrava fortemente
Do teu rosto, do teu corpo.
E
sonhava de certo, inocente.
Eu falava com as paredes
Olhava para as laranjas
E comia chocolate, eu comia,
Fumava,
pensava e bebia.
E me lembro de você
E até ouço a tua voz
Não esqueço nem do caju nem da
jaca
De
tão grande, a saudade vira um nada.
Nem sorriso, nem palavra, nem
risada.
Eu bocejo, vou e volto, ando e
sento
Eu levanto, me estico. Deito e
acordo
Pego o troco lá em cima do criado
E também o chamo, mas ele é mudo.
Eu pego o troco, e visito o
orelhão.
Visito
o orelhão, e basta.
28.
A coisa que vem do nada
Trazida por ninguém
Ao menos que se veja
Nem mesmo que se ouve.
O tudo, assim tão simples.
E pouco se torna muito,
Mundo infindável
Silêncio companheiro
Mundo infalível
Amigo misterioso
A saudade, e eu aqui.
Ainda inteiro
Ou pelo menos, quase…
29.
De tudo que posso
Eu não sei
De tudo que sei
Quero mais
Depois de ir em frente
Volta-se
para trás
De tudo que sei
Sei demais
De tudo que vi
Vivo em paz
Depois de contente
Chora-se
demais
Então, por favor,
Não me diga saber
Se você sabe mesmo,
Não deve dizer
E para toda resposta
Sempre existe um por que.
30.
Às
vezes se faz o que é necessário
E
às vezes, simplesmente, se lamenta.
Às
vezes não se faz o que é preciso
E
às vezes, simplesmente, se lamenta.
Mas
de certo mesmo, não fazer nada,
É
realmente, o que há de mais lamentável.
E
se queres saber de mim
Não
pergunte a ninguém, por favor,
Continuo
igual, ao que fui um dia,
Talvez,
só um pouco mais sério.
Talvez, só um pouco mais velho.
31.
Maria mãe
Maria amada
Maria eu amei.
Maria amou?
Maria eu sei
Maria amante
Maria amor
Maria amou?
Maria do Socorro
Maria me socorre
Maria Cristina
Cristina me socorre
E ainda assim Maria
Maria até o fim
Até o fim, Maria.
32.
Amo em você as pequenas coisas
Os teus pequenos gestos
O teu imenso afeto
Pela
forma e pela vida
Amo em você, os teus pares de
meia,
Os teus pares de sapatos
Os teus planos e os teus meios
Teus
desejos e os teus anseios
Amo em você, as tuas coisas.
E a mancha de tinta nas tuas
coisas
E tudo que me causa medo
Admiração
e grande respeito
Ah, menina Maria mulher.
Minha amada e grande amiga
Dona de todas minhas cantigas
Dona do meu maior arcano
Coisa que não cessa no peito
Maior que consciência política
Dúbio exato e fecundo
Semente
do princípio do mundo
É meu verbo mais exato
Meu instante mais infindo
A coisa, que coisa no peito.
E
o que não se explica do perfeito
E antes que chegue o amanhã
E meu mecanismo encerre
Saberás o quê trago no peito
Saberás
que é meu lado perfeito
E que amo em você, as pequenas
coisas.
E que é lembrada em tua ausência
E que talvez, eu não seja a tua.
Mas
de fato, é minha outra metade.
33.
O corpo deitado na mesa
O defunto pelado na pedra
A viúva chorando no canto
A sogra rezando prá um santo
Um dia a mais
Só um dia a mais
Somente um dia
Na vida d’alguém.
34.
Eu gostaria muito de envelhecer
Ao lado de alguém como você
Gostaria de acordar do teu lado
Num mundo nosso, e não errado.
Eu gostaria muito de envelhecer
Com uma mulher assim feita você
Eu gostaria muito de envelhecer!
Com está menina de meias
coloridas.
Uma garota que gosta muito de
tintas
E acima de tudo, gosta demais da
vida.
Gostaria de acordar e de envelhecer!
Ter plantação, espantalho e flor
de maio.
Eu gostaria, ah como eu gostaria!
Como que eu queria ah como eu
gostaria
De uma mulher que não tem nojo de
lesma
E que não tem, nem mesmo medo de
sapo.
E comparada à mulher de hoje, é o
contrario.
35.
Do silêncio incessante preso em
minha alma
Do amargo ao doce, do véu ao céu
que fosse,
Lembrança; você; e mais
lembranças.
Abraço inquieto e atormentado do
não possível
Gosto suave, impalpável do amor
improvável,
Vontade; você; e mais vontades.
Silêncio, amargo e doido feito
corte.
Vida amarga, doida, feita jogada
a sorte.
Morte em vida; você e a vida; a
vida e a morte.
Abraço por sorte, desejo antes
que morte.
Antes que cesse o silêncio por
sorte
A sorte; você; eu e a morte.
Antes ainda que a vida não mais
importe.
36.
Que
a boca fale a palavra necessária
Certa
que no momento exato
Se
faça amigo o silêncio sincero
Que
o abrigo mais certo, seja uma morada,
E
que se faça exata toda e qualquer espera.
E
que se faça verdade a resposta que espero
De
que importa mesmo o que eu quero
Se
aqui, inerte em um canto eu espero.
Mas
antes eu inerte, e ainda sempre sincero.
De
certo mesmo, tão somente o incerto.
Resposta
para uma pergunta perfeita não feita
Calma
e desespero, tão sublime quanto sereno.
É
certo, que acontece o que tem que acontecer.
37.
Eu
moro em um lugar azul,
Que
também é Redondo
E
tem o lado de dentro
E
o lado de for a também
Meu
sol é vermelho
Às
vezes ele fica amarelo
Minhas
nuvens são azuis
Tem
jardim e tem flor
É
bonito que só vendo
Tem
até brigadeiro da vovó
E
as brincadeiras do vovô
Meu
mundo é redondo e azul
Quem
sou eu?! Quem sou eu?
…Criança! UÉ!
38.
Você; meu pai.
Guiou-me os passos
Iluminou meus olhos
Ensinando–me o certo
Amigo maior de outrora
De sempre, de agora.
Poucos são os verbos
Capaz de descrevê-lo
Meu pai, avô de nosso futuro.
Sinônimo perfeito do amor
possível
Responsável por nosso orgulho
Dono de toda nossa gratidão
Incansável, exemplo de ser humano.
Pai e avô mais do quê perfeito
Que faz renascer todos os dias
A mocidade e a infância em nosso
peito.
39.
Estou meio que todo podre
Minhas pernas e meus braços
Andam meio enferrujados
E ultimamente ando oscilando
Entre o silêncio e vários gritos
Constante vivo guardado
Calo-me e observo em volta
E volto-me, calo de novo.
O silêncio que vaga na ideia
E a semente que voa no asfalto
Faço-me, como um penitente.
Que tenta adiar arrancar o dente
E se os dias fossem mais longos
E pessoas não fossem tão falhas
Haveria de haver sossego então.
Mas a roupa esta na lavanderia
E a louça se amontoando na pia
E meu sono que se vai toda noite
Trazendo sempre outro dia
Fazendo de novo outro verso
Ouve-me se assim for possível
Que eu encho o tanque na sexta
E viajo acordado e bem contente
Despeço-me de tudo que tenho
Vou te buscar e faço um principio
Divide comigo a tua escova de
dente
Nega-me um beijo e se faz de
difícil
Olho-te do avesso, te escrevo um
livro.
E guardo com um enorme apreço
Todos os nossos breves momentos
Dedico escrita a esta mulher
amada
A senhora que acalma meus nervos
Uma índia que abita minha mente
Menina que me faz mais contente
E beira a santidade sendo
serpente
Ouve-me se assim for possível
Estou lhe escrevendo um livro
Começa de novo tua vida comigo
Eu ando um tanto meio enferrujado
Mas não creio que a vida seja
acaso.
40.
Não
conte os teus segredos
Para
ninguém além de si mesmo
Não
deixe os teus desejos
Guiar
o barco em nenhum momento
Não
leve as tuas dúvidas de camarote
Por
que elas, não irão salvar ninguém.
Nem
se quer isentam, mesmo com sorte!
E
se a vida hoje em dia apenas se resume
Em
alguns poucos recortes de jornais diários
Já
são poucas as coisas, que me fazem mal.
Por
que agora, é o tempo onde tudo ou quase tudo,
Simplesmente
é uma mera questão de ponto de vista;
Onde,
individualmente medem-se valores a serem seguidos.
Agora,
estamos vivendo em um tempo,
Onde
para tudo é possível um meio:
Uma
meia amizade, Uma meia verdade,
Uma
meia honestidade, uma meio ética,
Uma
meia métrica, uma meia beleza…
Tudo
ou quase tudo hoje em dia pode ser meio,
Por
isso prefiro o lado em que a corda vai quebrar
Por
que, antes a beleza incomparável do último voo.
Do
que a falsa segurança comprada, de um covarde.
41.
Não esquenta, nem preocupa.
Que a chuva passa
Que o tempo sara
Que a vida cura
Que a água seca
Que o sangue ferve
Que a magoa cessa
Que o filho cresce
Que o tolo aprende
Que a noite chega
Que o sol aquece
Que o corpo desce
Que a terra e fria
Que o seio e quente
Que a forca e dia
Que a sombra cobre
Que o homem chora
Que a esmola dobra
Que tudo passa
Que tudo passa
Que tudo passa
Que tudo passa
Que tudo passa…
42.
Eu encontro meu ser novamente
Envolto pelo silêncio de uma
noite
Plena e repleta de saudades tua
De novo eu sigo pensamentos quase
vivos
Que conduz em meu espírito, um
sopro.
Divino, de uma vida que vive por
ti somente.
Descubro então, tudo que já
sabia;
Aquilo que eu guardava em segredo
Com o qual reservei eterna e
infinda
Admiração e sincero amor, por
você.
E pelo sol que lhe adorna o
rosto,
E pela vida, que esta logo
adiante.
Pelo riso que fortalece o
espírito
Pelo dia, que há de se fazer
belo.
Pergunto ao silêncio soberano e
amigo
Quem vos é? Se não aquilo que
falta
Para que talvez, quem sabe, eu
encontre,
O canto esperado que descansasse
a alma.
E me conduza a um céu limpo e
sereno.
E se ao fim da longa noite,
houver eu de chegar.
E houver também um sopro
desprovido de maldade
Que conduza levemente meu corpo,
Lá pra onde.
Meu espírito brando e tranquilo
já há de estar.
Livrar-me-ei de todos os medos,
De meus tolos anseios e desejos
E lhe darei por fim; tudo aquilo
que sou.
43.
Hoje eu me acabo,
Recomeço tropeço
Antes de um fim
Acocorado, acordado
Hoje me findo, lhe digo:
Quer namorar comigo?
Eu? Quero casar contigo
Hoje e a derradeira ansiedade
Ultimo dia de saudade
Amor? Outro vira de certo
Talvez não tão forte
Nem tão puro, nem perfeito,
Mas de certo outro amor.
Fútil, mundano, humano, ou de
engano?
Ah, mas hoje eu termino,
O que não iniciei, nem mesmo
tentei.
E mudo o livro, sozinho, e mudo.
Mudo calado, só de sozinho.
Hoje me acabo; Termino.
Fecho os olhos desligo o radio
Engulo amargo o gosto
Tropeço e recomeço
E não espero mais
Que você me ligue
Que você me ame
Que você se finde
Nem mesmo se arrisque
Ou simplesmente viva
A vida de verdade
A vida dos teus olhos
Não vale o risco
Não ouse tanto
Pequena assustada ariana
Eu sou prematuro
Eu sou ariano e ousado
E hoje, eu me acabo,
Recomeço tropeço;
Antes de um fim
Acocorado, acordado
Hoje me findo, lhe digo:
Quer namorar comigo?
44.
Um dia eu tive um sonho, estava
acordado,
Agora é um fato que está na hora
de dormir
De certo mesmo só ficou aquilo
que foi errado
De tudo que um dia eu quis, e de
fato nunca fiz.
Coloca esparadrapo, fecha o
buraco, deixa pra lá;
Porque hoje eu sou intanha, e não
quero espelho;
E hoje também, não tem hora e não
quero espera.
A saudade é a fome que consome os
dias que eu não vivo
Os olhos vermelhos, é a denuncia
do sono que não durmo.
O silêncio que precede meu delito
anuncia a queda do corpo.
E agora, já não há mais nenhuma
canção que me faça breve,
Nem existe mais a lição mundana;
Que de fato me deixe atento.
Nem mesmo espero mais, algum
sermão que me torne leve,
Porque agora neste exato momento,
me faço insano e insurgente.
45.
Hoje eu vou tomar gelado
Fumar três maços de cigarro
Vou fazer tudo o que não devo
Vou ser o final no próprio meio
Hoje eu vou ouvir alem da conta,
Vou me calar contra toda vontade
Pedir a Deus, por algum milagre.
Ser osso quebrado dentro da carne
Vou entupir todas as minhas veias
Jogar pela janela, as minhas
meias.
Hoje vou deixar o leite derramar
Tomar café sem açúcar e gargalhar
Vou sorrir gritar e chorar
Tocar violão sem a corda MI
E pedir por Socorro somente por
mim
Hoje, eu vou fazer algo mais
sincero.
Vou ser tudo aquilo que quero
Como se nunca fosse assim
Como se o mundo fosse pra mim
Como que se Deus me visitasse
E o giro exato da terra
atrasasse.
46.
Eu acho
que seremos eternos
Mas não
duraremos para sempre
O lado
bom, é que a tristeza também não.
E nossos
filhos um dia irão envelhecer
Não
sei se isso é bom, não sei se é mal.
Mas
no momento, isso serve, por hora basta.
Porque
ainda hoje eu vou estar com você
E
de amanhã agora, não quero mais saber.
Todo
mundo morre um pouco a cada instante
E
há pessoas que nem se quer percebem
E
há também quem não se importe muito
E
há aqueles que acreditam na sorte
Mas
de uma forma ou de outra, certo ou não;
O
fato é que as coisas sempre vão adiante.
Porque
daqui a pouco, o hoje irá ser ontem,
E
de amanhã, agora, eu não quero mais saber.
Tem
coisas que não são simples de aprender
Talvez
a mais difícil seja simplesmente esquecer
Existem
dias, que não são tão fáceis de passar,
Como
os dias em que não se pode se quer lutar
Dias
que são eternos de coisas que não vão durar
Por
que para sempre, o dia, tarde da noite há de acabar.
47.
E da poeira cortante que
silenciosa agredia meu rosto
Pálido e cansado
Tirava-me do silêncio e trazia-me
algo em que pensar
Enquanto ainda inteiro
Do sol sem piedade que bate em um
corpo pequeno
Mas forte pelo alicerce de uma
alma forte
Do céu belo e parado, banhado
pela luz da vida,
Tirei minhas forças restantes
Para que mesmo arrastado pela
tristeza remanescente
Da hora da partida inevitável,
Pudesse eu ainda encontrar a
alegria de caminhar
Na escada e no corredor
empoeirado
Mas estava eu ansioso para
encontrar meus presentes
Do grande “ser” eterno
E mais uma vez estava eu a contemplar
a beleza incessante
De sua criação inigualável
Admirável “ser” que nos faz
sofrer calada a tristeza da partida
E nos faz caminhar ansiosos pelo
destino que maravilhosamente
Aguarda-nos
E também faz sorrir pela
incessante certeza da volta pra casa
Maravilhosa moradia, beleza que
inunda os quatro cantos.
Celestes
Banhados pela sinfonia de seus
eternos porta-vozes
Doce início de tarde celeste que
me acolhe assim como a mãe
Ao filho
Agora vou! Agora parto! Mas logo
de volta estarei,
Para reencontrar minha paz
Voltar para um canto talvez meu,
talvez teu, ou simplesmente nosso.
Caminharei novamente pelo caminho
de espinhos que deixei
Para trás
Em busca de meus presentes mais
belos do eterno
Logo estarei de volta para
descansar em teus braços alvos e longos
Quem sabe com meus presentes,
quem sabe se só.
De certo somente a certeza da
volta desta partida
Que agora se inicia.
48.
Meus pés parecem
Caminhar com tanta
Rapidez que já não,
Consigo acompanhá-los
Por caminhos que nunca,
Ousei antes caminhar.
Ou se quer havia visto.
Parecem nuvens macias
Mas como isso é possível,
Se eu estou entre concreto
Sinto-me flutuar como se,
Não precisasse mais das pernas.
Tenho medo por que,
Não conheço o desconhecido,
Não enxergo no escuro
E não sonho assustado.
Mas aos poucos, caminho,
Como se pisasse em nuvens
Com muito medo e receio,
Mas grato e maravilhado.
Pelo privilégio, de poder,
Sonhar acordado, e poder ir:
Onde poucos se aventuram
E quase ninguém tem conhecimento
E vou sempre, continuar a Sonhar.
49.
Como
uma implosão,
Meu
cérebro partiu
Em
pequenos pedaços.
Espalhando-se
como
Se
estivesse no deserto,
Ou
algo parecido.
A
tal ponto de não mais
Conseguir
encontrá-los.
Lágrimas
minhas,
Não
adiantam mais,
Pois
meus pais
Foram
embora,
Ansiedade
pouco importa,
Pois
minha alma não me conforta.
Nem
a mim, nem a ninguém,
E
tudo que ficou dentro de mim,
É
como se fosse um refém,
Tem
medo, sono, frio e fome,
E
não consigo mais fugir de mim.
Eu
me encontro como
Um
animal no cio, ou uma,
Criança
com frio.
Inquieto
e inocente,
E
quando me encontro,
Sinto
um inevitável medo,
Porque
meu carrasco não é
Outro
senão eu mesmo.
50.
Eu tinha medo do escuro
Que havia em meu quarto,
Tinha medo quando era pequeno,
Aquele escuro que sempre sorria
Pra mim quando me escondia.
Ele entrava pela janela
E trazia carregado, o medo.
Um medo que me fazia chorar
Dentro de meu próprio quarto.
O frio entrava por todos os vãos
E gelava meus pensamentos de
sonho.
Mas repentinamente ao amanhecer
Aos poucos, aquele medo
desaparecia,
Com a chegada da luz de um novo
dia.
51.
Foram
horas olhando,
As
horas no relógio.
Relógio
da parede
Pendurado,
trabalhando
E
sempre funcionando.
Os
ponteiros corriam,
Em
direção ao por do sol
Junto
ao cair da alvorada,
Atrás
das montanhas,
Perdidas
no fundo do mapa.
Os
pássaros voam,
Fugindo
do tempo
Marcado
por ponteiros,
Que
correm sempre
Na
mesma direção.
Os
segundos passavam
Pelos
minutos,
Que
por sua vez,
Passavam
as horas, e esta,
Só
passava a si mesma.
E
as horas sempre estavam,
No
relógio da parede,
Pendurado
e trabalhando
E
como sempre funcionando.
52.
Aqui, nada mais há,
Para se procurar.
Sem ter por onde andar,
Sem ter prá onde olhar
Somente um dia, que você,
Anda triste pela guia,
Tentando se equilibrar,
Como se visse ali
Sua própria vida.
Aquele dia que parece
Ser o pior que existe.
Aquele dia sem motivos,
Para se esboçar um sorriso
Um daqueles dias que
Parece não ter fim,
Nem as respostas,
Tão pouco as perguntas.
Um dia daqueles sem rumo,
Em que não se existe direção,
E a pessoa certa não existe,
Um dia, que se torna uma
eternidade.
Aquele dia que você,
Não consegue alcançar
O fim da rua por mais
Esforço, que venha fazer.
Aquele dia que você,
Odeia aquele que você ama,
O dia que se odeia a pessoa
Que sempre se desejou.
Um daqueles dias que mesmo
Que rodeado por outras pessoas
Você se sente tão só, e na
solidão.
Neste dia, faça a sua última
procura.
53.
Um dia nos conhecemos
Como éramos, e agora.
Tentamos nos conhecer,
Como nós somos hoje.
Sei que pode ser difícil
Ser o que se sonha.
Tente encontrar o significado
Da palavra amor.
Aquele que foi deixado
Há muito tempo para trás,
Pelos nossos pais.
Sabe, nos seus olhos,
Aquele brilho, aquela doçura pela
vida,
Procure no infinito do seu ser,
Seu sorriso e seu carinho,
Feche seus olhos e a boca,
E se aconchegue no silêncio
Que sempre se faz presente.
Transforme a cada dia,
Sua juventude mais jovem,
Até o dia de renascer,
E jamais na sua vida chore,
Pelas conquistas, não
conquistadas.
Sorria pela vida vivida,
E pelas lições aprendidas,
Não chore pelas batalhas,
Que não foram vencidas.
Mas batalhe, mesmo chorando,
Para contemplar seu próprio ser,
E assim conhecer a ti mesmo.
Nunca desista de caminhar
Pelas estradas difíceis,
Pois, nas jornadas mais árduas,
É que pousa o melhor descanso.
Faça isso como quem ama.
54.
Acolhi meu irmão em tempo de
chuva,
Em uma madrugada de vento
intenso,
Onde nossos pais dormem
tranquilos,
Sem lembrar-se de suas crias
Feridas, pelas pedras de gelo,
Que caíam do céu, sem piedade.
Acolhi minha irmã, de alma morta,
há vários dias.
Surrada por suas descobertas,
Um passado trágico de medo, ódio
e dor.
Uma mente vazia, de criança
desesperada.
Ferida pela realidade de sua
vida.
Choramos como crianças perdidas,
E o copo vazio do lado, denuncia;
E faz companhia aos nossos
sonhos,
Que agora se encontram quebrados.
Todos os nossos amigos,
Ficaram perdidos, pelos caminhos.
Desprezados e largados.
Nada mais restava a nós, que um
dia,
Pensamos em ser livres.
Agora, simplesmente
Arrastamos nossas pernas
cansadas,
Por um caminho condenado,
Cheio de buracos e pedras.
Desejamos estar mortos,
Para não sentirmos as palavras,
Destroçando e rasgando nossos
ideais,
Ainda novos, como nós.
Nosso maior erro foi descobrir
Que para aquilo que se acredita,
Não existe data marcada, pois
eternamente,
O melhor dia é hoje
E o melhor tempo, agora.
55.
Crianças brincando
De um futuro esquecido,
E seus doces olhos assustados,
Como um breve sonho anulado.
Não podemos acreditar, que,
Tudo que acreditamos, acabe.
Não podemos permitir, que tudo,
Simplesmente se desfaça,
Como um pequeno pedaço de vida,
Desfeito pela tristeza.
Se a luz agride teus olhos,
Feche-os como quem termina,
Uma história triste.
Você não precisa chorar,
Pois, nos dias tristes,
Eternamente, estarei
Ao teu lado.
56.
Hoje olhei para o céu, e vi
chuva.
Vi também o cheiro de sangue,
Do menino caído ao chão.
Junto ao óleo da oficina,
Em meio à poluição.
Hoje eu vi a lua,
Em pleno meio dia
Encontrar-se com o sol,
Como última esperança de ser
feliz,
E infeliz do povo,
Que não mais têm esperanças.
Corri, chorei, sonhei,
Como quem não quer nada,
Esperando o mundo parar,
Para mim quem sabe pular.
Hoje eu vi o buraco no teto,
E se algum dia chover,
Todos irão se molhar,
E para o resto da vida, lamentar.
Vi menino chorando,
Vi menino sorrindo,
Na triste paisagem, de,
Um metrô lixo urbano.
Vi lua cheia vermelha,
Como que sem receio,
Fazendo amor com o sol.
E o povo da terra, que são,
Milhões e um tanto mais,
Todos e tudo, eu vi,
Num breve momento de observação.
57.
Aqueles barulhos que assombram,
No meio da noite; aqueles,
Estranhos barulhos ocultos.
Longínquos, aterroriza e apavora.
Aquele pedido de socorro,
O som da lágrima cortando o ar
Em direção ao chão.
Seria apenas um pesadelo?
Como resposta me vem:
Se você estivesse dormindo...
58.
Vejo logo à frente
Máquinas sobre a terra,
Mas não são
Homens trabalhando
Vejo tantas pessoas
Entre prédios e esgotos,
Brigando e matando pra viver.
Vejo robôs nas ruas e lojas,
Num futuro
Muito distante
Vejo uma ultima flor
No meio do asfalto
Manchada de óleo e sangue.
Vejo um bando de crianças
Desfilando ossos
No lugar de sorrisos.
Barulho sendo levado aos ares
Sem ser bloqueado,
Pelas árvores que ali havia.
Vejo rios pedindo
Para serem lavados
De toda selvageria
Vejo um céu cinzento,
Mostrando- me apenas
Um futuro decadente.
59.
Tracei meu caminho e segui
Firmemente minha meta.
Dei meu primeiro passo
Em seguida caiu a primeira
lágrima.
A dor insuportável de suportar
Aqueles que não têm o dom de
sonhar,
De ter de ver essas pequenas e
vazias
Almas. Tapar a luminosidade de
meu caminho.
As barreiras mais difíceis de
serem quebradas
São todas aquelas que se dizem
aliadas,
Mas, que no fundo, são as piores
armadilhas.
Quando se tem um sonho,
Somos considerados loucos e
Irresponsável,
Quando se tem um sonho
Tudo ao redor se levanta
Amargo, duro e frio.
Porque nos é proibido nos afastar
da realidade
Que nos fora imposta desde
criança,
E quando um louco descobre que é
tão lúcido
Quanto os normais, servidores da
realidade,
Esse louco se dá ao luxo de voar,
Por possuir o privilégio de
sonhar.
Nunca imaginei caminhos tão
difíceis,
Tão amargo, com tantas pedras; Tantas
dores.
Mas não me privarei
De minha meta,
E do meu ideal.
Às vezes para encontrarmos nós
mesmos
Temos que negar a outros,
Temos que ferir
Pequenos pedaços nossos,
Para preservar a maior parte,
Para mesmo que mutilados
Sobreviver
Ao final da jornada
Ao final da árdua estrada.
Que é o caminho,
Dos pequenos loucos!
60.
Sabe tudo aquilo
Que dizemos nos sonhos
E não dizemos
Acordados?
Sabe tudo aquilo,
Que passa pelo pensamento,
E não pensamos em passar?
Sabe tudo aquilo,
Que queremos fazer,
E não fazemos porque queremos?
Sabe todo o amor
Que guardamos,
Mas tudo que guardamos,
Não é amor?
Sabe tudo aquilo,
Que é dito pelos olhos
E entendido pela alma?
Sabe...
Tudo que sinto e não digo?
61.
Como um raio de sol no seu
poente,
O fio de luz dourada mesclava-
se,
Com o leve toque avermelhado da
tarde
E o vento brincava, numa leve
sinfonia.
Como o verde de cada folha
daquela árvore
Que servia de apoio para o
balanço
Daquela menina que todos os dias
Até ali caminhava para passar
breves,
Momentos de ternura e felicidade.
E o azul do céu pós-garoa banhada
Meu sonho e os toques suaves das
Gotas de água que caiam do céu,
Implacáveis, impiedosos e fiéis.
Nunca me deixaram esquecer os
seus
Cabelos ruivos e olhos verdes,
Que me faziam sentir um
Amor de criança, talvez
esperança...
62.
Cai chuva que traz vento,
Cai chuva. Que traz lentamente
A vida de volta.
Fumaça que foi embora
Que aqui estava outrora
Cai chuva
Limpando o sangue deixado pra
traz
Pelo corpo caído,
Pela alma tirada
Pela mão fria,
Que traçou um destino,
Que fez uma história triste.
Ao contrário dos contos,
Um fim de uma história
Com um traço e um ponto.
Cai, cai chuva.
Limpa o sangue deixado pra traz
Leva o cheiro e o veneno
Deixado pra traz
Pela mão fria
Cai, cai chuva e depois.
Dê lugar ao sol
Que vem secar as lágrimas
No canto escondido,
O fino fio de vida caído
Cala voz trêmula,
E o vento, vem lento.
Trazendo a vida de volta,
Em um fim de história
Que o contrario dos contos
Traz um traço e um ponto.
Dedicado à Grimaldo.
63.
Os laços, traços, tortos,
De um artista embriagado
Calmo e sereno,
Afogando- se numa taça de veneno
A tinta escorre como a vida,
A mão trêmula despida,
De seus limites inatingíveis,
De seus horizontes desprezíveis
O artista embriagado,
Perde-se, meio que culpado,
Ao meio de seus
Laços, traços tortos.
Como um mórbido moribundo
Que pousa tão profundo
Calmo, sereno em si.
Límpida taça de veneno
Sabendo de todo seu fim
Perde-se por querer
Em seus rústicos laços, traços
tortos,
Calmo e sereno.
64.
Eu vejo o tempo
Se escondendo,
Para não passar;
Com medo do futuro,
Que insiste
Em não chegar
Eu vejo o tempo
Envelhecendo
Pelo tempo que perdeu,
Correndo atrás do amanhã,
E quando finalmente
O alcança, ele é:
Simplesmente hoje.
65.
Amo
uma mulher
Que
nunca beijei
Amo
uma mulher
Que
jamais toquei
Eu
amo uma mulher
Com
um amor de criança
Simples
em sua definição
Eterno
em sua extensão
Puro,
calmo como,
O
sono de um bebê
Sem
tormento
Sem
maus pensamentos
Amo
uma mulher,
Que
não conheço o calor
De
seus lábios,
Tão
pouco o aconchego
De
seus seios,
Não
conheço o toque de sua mão,
Mas
nada tem importância,
Por
quê…
Na
simplicidade de todo meu ser
Eu
apenas amo uma mulher
Que
nunca beijei,
Nunca
toquei, mas;
Infinitamente
amarei.
66.
Talvez o meu mundo
Seja o dos surdos
O dos mudos e cegos.
Um mundo de sonhos
Que só os cegos veem
Que só os surdos ouvem
E onde apenas um mudo
Consegue cantar seus versos.
E todos talvez não o vejam
Porque perderam a magia
Deixaram cair por entre os dedos
O maior de todos os tesouros
Que já nos fora dado
O amor, e o...
Sonho.
Talvez o meu mundo
Seja o dos surdos,
O dos mudos e cegos.
67.
Nossas palavras foram todas gastas
Das nossas frutas só restaram às cascas
E dos frutos colhidos, agora é só saudade.
Por que choveu de madrugada, e só eu vi.
A roupa foi recolhida do varal, e não molhou.
Economizamos o trabalho da secadora
E de certo, gastamos menos luz desta vez.
Mas o caminho no escuro, infelizmente só eu vi.
E os nossos passos cansados foram todos gastos
E agora já não resta nem mesmo aquilo que é espera
Por que choveu muito na noite passada
E ninguém no mundo se quer se importou
Por que todos os frutos já foram colhidos
E das frutas, restaram somente às cascas.
E as nossas palavras, foram todas gastas.
68.
Aquela nossa velha pressa
Aquele nosso velho engano
Aquele nosso velho engasgo
Aqueles nossos velhos atos
Todos eles estão gastos
Feito os nossos velhos planos
Agora já são todos fardos
Feito as nossas velhas preces
Que foram feitas por engano
Repetidas todo dia pelos anos
Resmungadas sem força nem vontade
Mais por costume e pela nossa vaidade
Depois de certa idade
Não se tem direito a outras coisas
Depois de certas coisas
Não se tem direito a outra idade
São tantas as nossas velhas falhas
São muitas as nossas velhas tralhas
São poucas as sobras e tantas migalhas
Espalhadas pelo canto das nossas salas
Todas elas estão gastas
Feito os nossos velhos sapatos
E agora já são tantos os fatos
Feito errado e sempre às pressas
Que foram tantas pela vida
Fazendo os dias tão compridos
E a memória ficar assim tão gasta
E a história terminar sem ter nenhuma glória
69.
Quando Algum sentido já não faz mais diferença
E toda esperança se transforma em descrença,
Segue simplesmente caminhando sempre em frente
Não espere muita coisa desse mundo tão demente
Seja sempre certo e correto por que
Amanhã talvez nem chegue
E talvez ninguém mais volte
Agora é preciso estar inteiro com você
Para aprender a viver é preciso ouvir o silêncio
E estar sempre atento aos menores detalhes
Dos dias que passamos e às vezes nem notamos
Para aprender a morrer é necessário estar
Sempre pronto e despido de si mesmo,
Sem nenhum apego e sem nenhum direito
Tendo então somente tudo aquilo
De melhor que se tem dentro do peito
05/07/2011
70.
Sem pesos e sem medidas
Sem culpas e sem feridas
Sem mágoas e nem descasos
Cem dias e todos sem noites
Sem preces e nem pressas
Sem preço e nem cobrança
Sem nada e nem herança
Cem horas, e sem tempo.
Sem pressa, pois sem saída.
Cem lutas, e poucas vitórias.
Cem perdas, mas sem luto.
Cem sonhos e sem julgo
Sem apegos, mas com saudade.
Sem canto e nem mesmo cidade
Sem voz, mas com encanto.
Sem lados, mas com afeto.
71.
No fim das contas todas as coisas
Será somente uma mera experiência
O conjunto diário de todas as horas
A soma exata de todas as vivências
No fim dos nossos dias serão somente
A herança deixada de uma vida passada
As derrotas e vitórias não conquistadas
Assim como também todas as glórias
No fim das contas todas as coisas
São somente coisas a serem lembradas
É somente coisas, simplesmente um nada.
Talvez viremos lembrança e mais nada
Quem sabe não somos um erro no fato
Quem sabe da estrada sejamos buraco
Quem sabe o possível de um improvável
Quem sabe somente silêncio no grito calado
Certo mesmo é que todas as coisas são fato,
Experiência dos dias transformada em ato
Talvez algum exemplo de humano sensato
Talvez alguma coisa de um homem ingrato
E no fim das contas de todas as coisas
É só carne podre e os ossos quebrados
Debaixo de sete palmos de terra molhada
Talvez um rabisco de uma lembrança e mais nada
72.
Aos nossos projetos de vida
Aos tantos decretos de lutas
De algumas memórias eu lembro
E aqui ficaram tão poucas glorias.
Foram tantos os planos traçados
Outros tantos que foram alcançados
Dos medos, que foram deixados de lado.
Dos meses finitos que foram passados
Do luto e de todas as nossas dívidas
Serão no futuro algumas lembranças
De todo um passado que fora vivido
Talvez algum dia transforme num livro
Passagens sinceras do nosso caminho
E quando a gente enfim descobre
Que já não é mais assim tão forte
E de repente tudo aquilo que fica
É o encontro sereno com a morte
Então se passa a esperar ansioso
Pelo abraço de alguma outra sorte
Que de fato se faz somente uma espera
E nos dias que seguem a gente implode.
07/07/2011
73.
Eu que já não sei mais de tantas coisas hoje em dia
E outras tantas eu ainda sei, quem sabe um dia saberá?
Quem sabe um dia a gente “eu”, entenda; a mão estenda.
Quem sabe mesmo, e já nem se quer poder mais lembrar.
Ora, por hora meu bem, deixa essas coisas todas prá
lá.
Esquece um pouco daquilo quê não dá pra lembrar.
Olha a chuva e deixa esta noite inteira passar, e eu?
Eu sei lá, não sei mesmo sobre quase mais nada no
agora.
Eu sei lã, sei mesmo que me lembro; Exato de cada
momento “já”.
Eu me perco sem tempo, nem ao menos um mínimo
necessário.
Para que todas as coisas desse nosso mundo pudessem
passar.
74.
O fósforo riscado queimado no espaço
Matando o silêncio no vício do trago
A alma em silêncio lembrando o passado
Matando o tempo no vício da vida que passa
As horas cansadas queimadas no tempo
Matando a vontade do quê não entendo
Os dias dormidos com sóis nunca vistos
Mantendo a mania e o velho antigo vício
As moscas voando e passando no tempo
Matando as horas que passam no vento
A mente no vício da mão que escreve
Um corpo cansado matando a vontade
Um copo do lado matando a sobriedade
O cigarro no dedo queimando o silêncio
E o fósforo riscado queimado no tempo
Morto no vício do que trago em silêncio
02-06-2011
75.
Simpático
Sim e estático
Testamento
Testa a mente
Fingimento
Finge e atento
Parlamento
Fala ao vento
Nomenclatura
Nome em clausura
Cyber robótica
Saber da lógica
Lunático
Lua e prático
Matemático
Mata o sádico
Fiasco
Fio de plástico
Provérbio
Prova o herbário
Heresia
Hera e azia
Bioplastia
Surdez e miopia
Algodão
Algo sim algo não
Apanhado
Apanha um bocado
Carboidrato
Carro e barco
Depilação
Despe a nação
Enrola são
Uma lição
Reconstruir
Recomeçar
76.
Ainda acho que tem jeito
Põe o pranto num canto
Tira o prato da mesa
E ao menos hoje, por favor,
Vê se deixa a luz acessa
To precisando iluminação
Pra desenhar a minha vida
Rabiscar a minha história
Encontrar alguma glória
Que deve estar bem escondida
Ainda acho que tem jeito
Mesmo sabendo que não me ajeito
Mas põe o prato no canto
Guarda o álbum de foto
Telefona de vez em quando
Sorria-me em pensamento
E lembre-se da minha escrita
Nunca esqueça meu amor
Porque talvez encontre maiores
Mas jamais encontrará igual
To rabiscando o teu retrato
E desenhando a nossa vida
Um início feito, de uma partida.
Sorriso apaixonado e sem jeito
No silêncio da nossa despedida
Espero que acenda alguma luz
Preciso de alguma iluminação
Da tua presença, do teu sorriso.
De uma esperança que já não tenho
De alguma coisa que eu nunca tive
77.
No final do meu tempo
Serei exato aquilo que sou
Por princípio e essência
Sem o discurso falso-moralista
De quem quer corrigir em outros,
Os erros que cometeu pela vida.
No final dos meus dias
Terei exato aquilo que quero
Por crença e paciência
Levarei comigo, meus amores e meus amigos.
E tudo aquilo que não entendi, para quem sabe,
Um dia na volta, compreender das coisas todas.
Tudo que eu passei que vivo e passarei
De certo mesmo é que passarei
E todos como são, também passarão.
02-06-2011
78.
Maldita velha mania minha de roer todas as coisas que
sinto,
E de me entregar sem medo a tudo aquilo que quero;
Eu que sou reto, mas que também muitas vezes sou
falho,
Sou por inteiro, mesmo que por muitas vezes esteja
retalho.
Eu sou exato tudo aquilo que faço e faço meu ato ser
fato
Acredito e sigo aquilo que falo mesmo que eu desça ao
ralo
Mesmo que eu vire bagaço ainda mesmo assim eu não paro
Um dia se for necessário eu parto levando minha alma
em pedaços
Levando o corpo cansado e a mente tão certa daquilo
que quero
Ainda que torto seja sempre exato e sempre na vida
sincero,
Porque de tudo aquilo que passa, eu serei só lembrança
e mais nada.
Quem sabe saudade na vida de alguém, saber de verdade
eu não sei.
Quem sabe se eu fui amado um dia, só sei que na vida
eu muito amei.
Nasci prematuro, com certa pressa, de vida,
Para pintar de silêncio todas as minhas palavras,
E para poder escrever cada linha da própria história
Eu sei, rabisquei pelos cantos de algumas memórias.
Sem o medo de que fosse derrota o que me esperava
Porque esta vida não deve ser feita somente de glória.
Eu hoje sou feito, como o cheiro de um som pintado,
Eu sou carne já podre e um monte de ossos quebrados.
12/07/2011
79.
Das palavras que alimentavam
A minha espera
Das loucuras que pensavam
A minha estrela
Dos descasos que faziam
A coerência
Das lembranças que trazia
Da infância
Dos desejos que eu guardava
Enquanto homem
Dos poemas que escrevia
Enquanto amante e do olhar vago e delirante
Do calor seco e sufocante
Da escrivaninha e da estante
Da própria vida e do restante
De todos os amores que passaram
De todos os afetos que restaram
De todas as certezas que ficaram
E dos grandes amigos que se mudaram
Das minhas próprias definições
Das aulas e de todas as lições
Da obra toda de uma vida
De todas as drogas e da ferida
Dos acasos que não existem
E da essência que ainda persiste
Que se faça de novo o inevitável
Chegando então o último trago
E eu serei enfim somente mais um
Que será lembrança e alguma saudade.
80.
Contra Capa |
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